Cherreads

Chapter 3 - Capítulo 3

O que Ren viu foi:

Um lençol ambulante, com olhos esbugalhados, caído no chão cercado por meia cozinha roubada.

Silêncio…

— Que porra…?!

— Fudeu…

♱✧♰ ♱✧♰ ♱✧♰

Diante de tal cena, Ren ficou ali

encarando tudo com cara de trouxa. Incrédulo.

Como tiveram coragem de invadir seu apartamento — que já não é grande coisa — e ainda roubar sua pouca comida altamente processada.

— LADRÃO!!

O grito foi seguido de um passo adiante.

Logo em seguida Ren se jogou em direção ao “ladrão” para pegar ele.

Mas a criatura não era boba nem nada.

Assim que percebeu o risco de ser pega, se levantou. Desajeitada e escorregando, mas se levantou para corre. E mesmo assim ainda estava no caminho e seria pega por Ren.

Porém…

Paft!

O caça bandido se espatifou no chão.

Mas como?

Ele tinha certeza que pegou o ladrão em cheio.

O salto tinha sido certeiro.

Ele imediatamente olhou para trás procurando o bandido.

Mas assim que o percebeu, o alvo estava flutuando acima do chão.

Voando por ai como uma barata desorientada.

A real é que a criatura utilizou de seus poderes sobrenaturais para fugir.

Ren passou reto por ela.

Naquele momento ela ficou intangível.

Ainda desesperado para pegar o ladrão de comida.

O rapaz não demorou.

Levantou rápido como um atleta olímpico.

Os pés rápidos começaram a correr atrás de seu alvo.

Era óbvio que ele era mais rápido, mas não conseguia pegar sua caça.

O ser do lençol encardido fugia em zig zag voando pelos cômodos.

Na perseguição os livros caiam. As mesas de canto tombavam. A cama ficou uma bagunça.

Tava tudo um caos. Uma bagunça generalizada.

Enquanto fugia de Ren. A criatura pairava de novo até a cozinha.

Lá ela catava do chão o que havia deixado para trás.

Todo esse trabalho e não poder ficar com nada seria trágico.

Ren finalmente a alcança e pula para agarrar o alvo novamente.

Mas de novo ela fica intangível.

Resultado: fracasso na captura e um monte de embalagem e lata de comida caindo na cabeça de Ren.

O som das pancadas na cabeça do garoto fez a ladra soltar risadas.

— Hahaha! Você nunca vai me pegar, mortal!

— grr

A frustração do fracasso parecia maior nele do que o normal. Mesmo estando tão acostumado.

Apesar de tal frustração, uma ideia surgiu como um raio em sua mente.

“Por que estou tentando pegar um bandido eu mesmo? Isso é dever da polícia.”

Um suspiro anunciou a derrota e sua rendição. Com calma se levantou, pegou o celular e começou a digitar o número da polícia.

A criatura percebeu que estava sendo ignorada e isso chamou sua atenção.

Ela se virou e observou Ren tirar o dispositivo tecnológico do bolso e começar a usar.

Ela não conhecia bem aquele dispositivo. É tão tecnológico.

— O que está fazendo? — Flutuou em direção a ele.

A distância que ela mantinha era segura, mas também próxima demais.

Parecia um gato curioso tentando descobrir o que há dentro de uma caixa.

— Estou chamando a polícia. — O tom seco demonstrou seriedade. Ren não estava mais para brincadeira.

— Iih! — A ladra no cobertor tremeu — Você não pode fazer isso!

— A polícia foi feita para lidar com ladrõezinhos como você. Você vai sair daqui para a delegacia.

— Eu não sou um ladrão. Você que é, Seu invasor!

— Invasor? Eu estou dentro da minha própria casa, seu maluco!

“Droga! Preciso fazer ele desistir de chamar a polícia e ir embora. Mas como eu posso assustar ele agora?…” Os pensamentos da criatura agora se bagunçavam desesperados. Isso tava estampado na sua face por baixo do lençol e também em sua postura.

Uma ideia.

Uma ideia estúpida surgiu na cabeça dela.

— Ajoelhe-se, mortal! Eu sou a verdadeira moradora dessa casa! — A voz não era nada confiante. Aquela atuação barata e malfeita era digna de uma peça da 3° série do fundamental.

“Isso, se eu fingir ser um demônio poderoso ele vai querer sair correndo daqui! Eu sou uma gênia!”

— Você está diante da grande… grande… erm….

Naquele momento Ren nem digitava mais nada. Apenas encarava ela incrédulo tentando ver até onde que aquela maluquice iria.

Mas um nome surgiu na cabeça da criatura para ajudar no seu blefe.

— LILIVETH CROWMIA! — A entonação com que ela gritava isso a pulmões abertos tinha impacto.

Tinha uma certa aura.

Uma aura de…

— Chunibyo. — Declarou Ren com uma cara de quem julgava até a alma de Liliveth.

— EU NÃO SOU CHUNYBYO!!

A perda de postura, com certeza, não fazia parte do plano.

(termo japonês usado para descrever adolescentes com delírios de grandeza, que se convenceram de que possuem conhecimentos secretos ou poderes especiais)*

— Ehem… — Ela recuperou a compostura. — Eu sou Liliveth Crowmia, o demônio mais poderoso e perverso do inferno. A RAINHA DOS REINOS DA SOMBRAS! ENTÃO CURVE-SE, MORTAL!

A apresentação era grande. Tinha impacto.

Liliveth estava flutuando em uma posição acima de Ren. Sua postura confiante. A voz imperativa como a mandona que ela é. O dedo apontado julgando o como mero mortal.

Tudo estaria perfeito… Se Ren acreditasse.

— Tá, eu vou ligar para a polícia e avisar que uma Chunibyo invadiu a minha casa. — Ren cagou forte pra ela.

Pra ele ela era apenas alguém com síndrome da quinta série mal tratada. Uma cosplayer fingindo ser algo grande enquanto usa algum truque barato pra flutuar. Ele não tinha tempo para crianças cheias de fantasia. Principalmente se essa criança rouba sua comida.

— Nã…

Liliveth ia impedir que ele continuasse ligando para a polícia, mas algo a interrompeu.

Batidas naquela porta velha e mofada chamaram a atenção dos dois.

Ren então parou e foi atender a porta. Liliveth apenas assistiu.

Quando a porta abriu, uma senhora de cabelos grisalhos, pele flácida e olhos quase fechados apareceu.

Era a vizinha do último apartamento.

O apartamento dela ficava no canto mais escuro e mais sinistro dos 3 apartamentos. De noite parecia ainda pior.

Apesar disso, seu apartamento era também o único que não parecia abandonado. Diferente do cárcere que Ren chamava de casa.

— Olá, vizinho. — A voz doce, porém cansada, demonstrava pura experiência e paciência, mas também algo que o rapaz não sabia dizer.

Ela parece mais doce do que seu apartamento faz pensar.

— Eu vim lhe dar a boas-vindas. Será um prazer ter você como vizinho. Estarei contando com você. — Ela fez uma pequena reverência como se entregasse seus míseros anos de vida para ele.

Enquanto a senhora falava. Ren apenas ouvia, mas Liliveth não.

Ela passou na frente e se colocou entre a senhora e ele. O que dificultou que ele olhasse diretamente para a senhora.

Quando isso aconteceu, seu impulso foi de tirar a garota da frente e dar um grande sermão, mas algo parecia estranho.

A senhora não parecia notar a presença de Liliveth. Parecia que ela não via a garota bem ali, na sua frente.

Sabendo disso, a pequena demônia decidiu brincar com a cara de Ren e se divertir testando a sanidade dele.

Então ela estendeu a mão em direção a cabeça da mulher idosa e atravessou a mulher como se fosse água. Como se ela fosse apenas um holograma.

O jovem incrédulo precisou se controlar para não fazer expressões desagradáveis na frente da senhora.

— Saiba que sempre que você precisar, pode contar comigo. Eu estou sempre no meu apartamento. Eu nunca tenho nada demais para fazer mesmo.

A mulher falava bastante. “Coisa de gente idosa” pensou Ren.

Mas ele sabia e pensava também que havia algo estranho naquela mulher.

A sensação que ela transmitia apenas pela sua presença era misteriosa.

Uma presença que emitia sombras demais. Um imenso contraste com sua voz adocicada e maior ainda com sua aparência tão tranquila.

Aqueles olhos semicerrados realmente pareciam esconder coisas.

— Mas eu não pretendo ficar gastando o seu tempo atoa. Você deve ter muitas coisas pra fazer. Os jovens são sempre bem ocupados. — Prosseguia a senhora.

—Ah. Não, senhora. Tá tudo bem. Não me incomodou nem um pouco. Muito obrigado por ter vindo aqui.

— Tenha um bom dia, meu jovem.

A senhora virou as costas e caminhou até as sombras que cobriam seu Apartamento.

Ren apenas observou ainda pensativo.

— Eu avisei, não foi? Eu sou um demônio muito poderoso. Aquele é apenas um dos meus mais fracos poderes. Eu posso atravessar coisas, voar e….

O demônio do lençol queria se gabar ainda mais e convencer ele de seu imenso poder. Mas foi brutalmente interrompida com Ren a empurrando suavemente para o lado de fora.

— Eh? Você tá me expulsando?! CRUEL! Não sabe ser gentil? Por que tá me tirando da minha casa?

— Eu não tenho tempo pra lidar com adolescentes com síndrome de quinta série.

— Mas eu já expliquei…

O esforço começou a se demonstrar inútil quando Ren não foi mais capaz de conseguir empurrar nem com toda sua força. Era como se ele estivesse empurrando uma parede. Fisicamente ele deveria ser capaz de levar ela para fora já que a porta estava aberta.

— Você não vai conseguir me tirar daqui… Nem os policiais…. — Começou a explicar, mas Ren realmente ignorou.

— Eu estou presa neste lugar, nada que você faça ou tente vai me tirar da… — Novamente Liliveth foi interrompida. Parece que alguma entidade no universo não gosta que ela fale muito.

Liliveth sumiu após ser muito pressionada pelo rapaz.

Apenas desapareceu de onde estava.

Sem apoio, ele caiu de cara no chão novamente.

— Eu avisei. — Falou ela diretamente do meio do cômodo. — Eu não consigo e nem posso sair daqui. Nem mesmo que eu queira.

Como ela foi parar no meio da cozinha tão rápido?

— Ah, quer saber?! Fica ai! Eu não ligo! Faz o que você quiser. Eu vou te ignorar mesmo! Não tenho tempo pra lidar com você!

A bandeira branca do rapaz cabeça dura veio acompanhada de exclamações de raiva e impaciência.

Ele se levantou, irritado, e fechou a porta.

— Faz o que quiser, só não me atrapalha. — Frase digna de um tsundere, eu acho.

Com passos pesados ele voltou para dentro do quarto.

— Então quer me ignorar é? Quero ver por quanto tempo você vai conseguir. Muahahahaha!

A risada maligna do demônio parece… Fofa??

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